Dentro do parque, debaixo de uma árvore centenária, uma jovem lia um livro que encontrara na livraria e que achara interessante comprar.
À sua frente, um imenso lago, cheio de patos a nadar e a se esbaldar na água fresca  de uma tarde de verão.
Mais adiante, jovens bebendo e falando ao mesmo tempo como se fossem uma só voz, nos sons do momento.
Recostados em seus carros, guardavam para o fim de semana, suas mais belas canções como se quisessem contagiar um simples domingo num passe de mágica.
Crianças do outro lado se divertiam, brincando de correr, jogar bola e andar de bicicleta. Com seu jeito de ser, transformando a vida num breve sonho de sorrir, amar, correr, brincar.
A brisa, mansa, tocava os lindos cabelos da jovem que, imersa na profundidade da leitura, se apaixonava, aos poucos, pelas palavras que formavam frases. Frases que ocultavam segredos de uma escritora ousada que fazia vibrar no coração de seus leitores, mundos ocultos revelados somente na história de um livro.
A mente de Ana Luísa já habitava mundos sem fim, mas sempre sem uma direção certa. Apenas ao sabor do vento.
Seu coração conhecia seus desejos enquanto a razão mesclava suas ações com alguns devaneios.
Entretanto, tudo o que desejava era apenas encontrar sua alma gêmea, aquela com quem sonhava ter uma vida tranqüila e serena.
Enquanto lia seu adorável livro, não percebeu que debaixo de uma outra árvore, nem tão distante de si, um jovem a acompanhava com seu olhar irrequieto.
Ele também estava em busca da alma gêmea. Nos seus trinta e oito anos, ansiava encontrar aquela que transformaria seus dias em bênçãos e suas noites em sonhos realizáveis.
Estava cansado de tanto buscar e nada encontrar, de receber a mesma resposta de seu coração.
Mal sabia que naquela jovem que lia seu livro sem preocupar-se com os olhares em volta, estava a sua chave.
O vento chegou, remexendo com seus cabelos negros e ondeados, como se quisesse dar aparência àquilo que já era perfeitamente aprazível.
O cãozinho da mocinha rica veio em sua direção em busca de carinho verdadeiro e imediatamente, recebeu seu afago emocional.
Abanando o rabinho satisfeito, o cãozinho quis ficar um pouco mais, mas sua dona, dando um sorriso sem graça, não permitiu.
Ele olhou para a moça vestida com o ar da moda e se perdeu em mil pensamentos.
Fechou os olhos como se tivesse inalado uma onda de cansaço e respirou fundo.
Por um instante, parou. E só agora, percebeu que de um dos carros abertos é que vinha uma canção doce tocada ao piano.
Esta canção conseguiu tocar sua alma de modo profundo e fez com que despertasse na própria realidade.
Lembrara-se de uma história que lera, certa vez, num livro onde o amor aguardava duas pessoas numa grande festa.
O livro dizia que bastava apenas um olhar para tudo girar após começar.
Sua mente abriu arquivos em busca de alguma coisa no passado que pudesse retratar aquela lembrança e tudo o que encontrou foi desencontros de uma vida em busca de algo maior.
A tarde caiu e já era hora de ir embora. Deu uma olhada para a árvore que Ana Luísa escolhera.
Olhou em volta e se perguntou para onde ela fora, já que não a via mais por ali.
Resolvido, caminhou até o ponto de ônibus para retornar à sua casa depois de mais um dia sem grandes acontecimentos.
Quando chegou, se deparou com a jovem que havia buscado minutos antes no meio do parque, em meio à multidão.
Seus olhares tímidos se entrelaçaram como se fossem resgatados pelo encanto do momento.
Os sorrisos se desenharam em seus semblantes revelando que a magia se fazia presente.
Havia algo em ambos, que os seduzia a cada segundo que passava.
O destino, secretamente, derrubava o livro das mãos de Ana Luísa no chão.
E o jovem, atento e sedento, se agachou para pegar o livro “O caminho das pedras do Amor”.