Uma viagem é sempre UMA VIAGEM.
E por isto, gosto de carregar pouca bagagem.
Porque quando retorno, volto muito maior do que fui, ou seja, a bagagem aumenta.
Quando meu pé direito toca o degrau adentro, sei que de nada adianta olhar para trás, pois, até ali, o que tinha que ser feito, foi feito...
E quando me sento no banco de um ônibus, sei que estou nas mãos hábeis do motorista que fará todo o caminho até onde destina-se chegar.
E a última viagem marcou-me mais uma vez por duas situações:
- acidentes na estrada
- gratidão das pessoas
Fiz uma viagem até Blumenau no último fim de semana e ao retornar para casa, no meio da estrada, nos deparamos com acidentes.
Os acidentes tornaram o trânsito bem lento, a ponto de pararmos por alguns minutos na estrada.
E assim que o ônibus parou, percebi a apreensão de todos ao espicharem os olhares para fora da janela, buscando saber o que havia acontecido.
Enquanto observava, pensei na fragilidade de todas aquelas vidas cujo líder operador naquele momento era um motorista.
Pensei em muitas coisas em pouco tempo.
É como se fosse dito a cada um: "Pausa para reflexões ou para medos ocultos."
E ouvi claramente celulares funcionarem rapidamente para justificar possíveis atrasos.
Percebi a preocupação de quem ia e daqueles que aguardavam EM ALGUM LUGAR...
E mais uma vez, pensei na importância de estar junto aos nossos, junto aos outros...
E pensei também naqueles que por imprudência ou não, haviam ficado no meio de uma viagem...
Passado um tempo, a fila começou a andar e  vi nos semblantes à minha volta, um pouco de serenidade entre respirações aliviadas.
Pensei nas pessoas que deixei para trás e naquelas que me aguardavam ansiosamente...
E eu ali, dentro do ônibus, sentada ao lado de uma jovem que ouvia música em seu MP3...
Meu olhar se deixou levar por todas as paisagens que iam se mostrando através da janela enquanto um sentimento de desapego foi me invadindo gradualmente até que, adormeci abraçada pelo frio da chuva fina que caía lá fora.
Acordei quando alguém à minha frente falou em seu celular: "Pai, chegamos!"
Arrumei meu corpo, esticando-o e arrumando o capuz e o cachecol...
E assim que o ônibus abriu a porta, houve muita ansiedade em descer o mais rápido possível.
Vi pessoas preocupadas com suas vidas e com afazeres mil...
E algo me deixou emocionada.
Muito emocionada mesmo.
O motorista ficou preso em sua cabina e foi obrigado a ver um por um a descer...
E SABER  QUE ELE DEVERIA OU PODERIA SER O PRIMEIRO A DESCER...
Enquanto cada um descia, ele ouvia: "Muito obrigado, Boa Noite!"
Nunca tinha visto e nem ouvido isto.
...
Eu fui a última a descer e quando passei por ele, falei:
"Obrigada pela viagem, Boa Noite e um Bom Descanso!"
Ele disse:
"De nada."
E vendo que ele cumprira bem com seu papel, disse-lhe ainda em pensamento:
"Que Deus o abençoe e o proteja sempre em sua profissão."
Em seguida, peguei minha bagagem  e corri em busca de um táxi.
Quando cheguei em casa, braços se abriram num ABRAÇO BEM GOSTOSO...